Matosinhos é um concelho
relativamente pequeno (pouco mais de 60 Km2) e pouco populoso (<250.000
habitantes). Porém, está excelentemente localizado e as suas condições de
geografia natural potenciam o seu desenvolvimento. E, de facto, assim tem sido
ao longo das épocas.
A foz do rio Leça originou um
porto que, embora artificial, tem vindo a criar riqueza. Muito recentemente,
devido às recentes greves nos portos do sul, o Porto de Leixões foi capaz de
dar resposta rápida ao movimento das mercadorias das empresas que o demandavam,
quer para exportar quer para importar. E bateu um recorde na movimentação de
contentores, como foi amplamente noticiado.
O seu Porto de Pesca já viu
melhores dias. Fruto da adesão de Portugal à, ao tempo, CEE, a sua frota de
pesca da sardinha, que já foi a maior do mundo, está reduzida a quase nada.
E o mesmo se passa com a
indústria conserveira. Das dezenas existentes nos anos 30 a 60, quantas restam?
Uma mão-cheia delas!
Não obstante a sua
localização, o concelho tem vindo a enfrentar uma crise crescente, que não é de
agora. Várias empresas encerraram as suas portas. Quem se lembra da FACAR, da
EFANOR e da LIONESA, por exemplo? Tantas e tantas empresas encerraram, muitas
delas por causa da abertura das fronteiras comerciais da Europa aos mercados
emergentes, já que, face aos preços por eles praticados não existe
possibilidade de uma franca e leal concorrência.
Das indústrias dos anos 60/70,
só nos restam a EFACEC, a GALP, a SCHMIDT+SON e a UNICER. Todas as demais
indústrias transformadoras desapareceram.
Fruto de uma política do
betão, a zona industrial da freguesia de Matosinhos deu origem a habitações
que, por si só, não criam riqueza a longo prazo. E não se cuidou de criar, no
concelho, uma zona verdadeiramente industrial, tal como o fez, a nossa vizinha
Maia. Há locais com algumas indústrias um pouco por todo o lado, que não
conseguem atrair investidores.
Mais recentemente, por causa
da crise que assola alguns países europeus, o poder de compra dos portugueses,
quer pela baixa de salários quer pelo aumento crescente dos impostos, tem vindo
a diminuir, com isso pondo em risco a sala
de jantar do Porto. Mas essa mesma crise que vem atravessando o sector da
restauração, não se deve apenas a esse facto. É que a zona entre a Rua de Brito
Capelo e o Oceano tem vindo a perder atractividade, por causas de todos
conhecidas: a instalação de contentores de gosto duvidoso para servirem de sala
de refeições e as “cozinhas” da via pública, a céu aberto, aos gases dos
escapes dos autocarros e, pior que isso, ao voo das inúmeras gaivotas que
pululam por aquela zona e que tudo conspurcam. E, como os consumidores estão
cada vez mais conscientes dos seus direitos e, por isso, mais exigentes, vão,
aos poucos, abandonando a sala de jantar
do Porto. É que muitos não estão dispostos a mudarem de roupa após o
repasto!
Se da indústria pouco resta,
o comércio das grandes e médias superfícies alastra criando cada vez menos
condições para que o comércio tradicional possa sobreviver. Daí o espectro em
que se vive na Rua de Brito Capelo. Do centro da vida comercial e financeira de
Matosinhos, passou a um deserto que parte o coração de quem a conheceu. A ideia
de uma via sem automóveis foi o tiro fatal. De facto, é incompreensível como
uma artéria que tinha o eléctrico,
trânsito automóvel nos dois sentidos e, pasme-se!, estacionamento no centro da
via, passou a via pedonal. Qualquer pessoa, por menos avisada que fosse, sabia
o que iria acontecer, tanto mais que nasciam as grandes superfícies comercias,
como, na época, o Continente e, depois, o NorteShoping e, mais recentemente, o
MarShoping.
Turismo? É quase inexistente.
Não sabemos aproveitar a chegada dos navios de cruzeiro que, cada vez mais, nos
demandam. A quase totalidade dos turistas dirige-se para o Porto, poucos
ficando em Matosinhos, o que não admira, face ao aspecto da Rua de Heróis de
França e artérias adjacentes. Assim, não sabemos captar os cabedais dos poucos
turistas que preferem andar a pé para fazerem compras. E comprar o quê e onde?
É bom não esquecer que a maioria dos turistas tem idade avançada com os
problemas de locomoção característicos de idade. E do hotel de luxo a construir
em Leça da Palmeira, frente ao mar, já só existe a placa anunciadora, carcomida
pelo ar marítimo.
Só resta a Matosinhos
inverter a marcha caso não queira tornar-se, a médio prazo, num
concelho-dormitório. É que temos tudo à mão: um porto marítimo, um aeroporto,
vias de comunicação rodoviárias e ferroviárias.
Não será, certamente, por falta de vias de comunicação, ou melhor, de
acessibilidades, como agora se diz, que o nosso concelho se não desenvolve.
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