A comunicação
social tem um papel relevante em qualquer sociedade hodierna, de globalização,
e, para isso, tem de ser isenta e livre.
Mas isso, por
si só, não chega.
À comunicação
social, e em especial ao senhor jornalista, compete-lhe um outro papel, também
ele igualmente importante: o de instruir as populações, de formar as mentes dos
mais jovens, utilizando uma linguagem correcta e variada, saindo dos
estereótipos vulgares. O léxico português é um dos mais ricos do mundo, mas
para quem ler/ouvir a comunicação social portuguesa verifica que esta é de uma
“pobreza franciscana”. Felizmente que alguns jornais – os denominados jornais
de referência – vão fugindo a esta tendência a que nem as televisões escapam.
Concretizando:
Quando
noticiam que uma qualquer figura pública se separou, informam o incauto leitor
que “F está novamente solteiro”. ERRO!! Os estados
civis não se mudam a bel-prazer do senhor jornalista. Quem quer que se case
é casado; se se divorciar é divorciado e não solteiro, se enviuvar é viúvo e
não solteiro. Quem vive em união de facto não está casado(a).
Ao dar uma
informação sobre uma determinada freguesia do município de Lisboa, informaram
que era a “freguesia mais populacional de Lisboa” quando quereria, certamente,
dizer populosa.
A sempiterna
confusão entre aluguer e arrendamento:
um automóvel não se arrenda tal como uma casa não se aluga! Alugar é ceder
onerosamente um móvel e arrendar é ceder onerosamente um imóvel.
E entre estada e estadia. Estada é o acto de alguém
estar, de permanecer, num local; estadia é a permanência de um navio mercante,
num porto, para carga e descarga. Consequentemente, um turista tem boa estada num hotel e um navio
mercante uma boa estadia num porto.
Ao comentar o
discurso de Ano Novo do Senhor Presidente da República um jornalista disse que
o discurso era, cito de memória, “temerário, cauteloso e mesmo
medroso”.
Bem, ou se é temerário ou se é medroso. As duas, em simultâneo, é que nunca,
mas nunca pode ser! Ou terá confundido “temerário” com “temeroso”?
Ao
noticiar-se as obras feitas na segunda circular, em Lisboa, fomos todos
informados que tinham sido encerradas, ao trânsito automóvel, duas faixas de
rodagem para a construção de uma passagem superior. Fechando as duas faixas de
rodagem encerrou-se a citada via ao trânsito automóvel, e não foi o que
aconteceu. Ao que sei, foram encerradas ao trânsito duas das vias de cada uma
das faixas de rodagem. O autor do texto fez confusão entre faixa de rodagem e via de
trânsito. As nossas auto-estradas têm duas faixas de rodagem com um mínimo
de duas vias, no mesmo sentido, em cada uma das faixas de rodagem. As restantes
vias de comunicação têm, apenas, uma faixa de rodagem, com, pelo menos, uma via
em cada sentido.
Outra informação:
devido ao mau tempo, o trânsito da Ponte 25 de Abril obrigou ao fecho da faixa
de rodagem da esquerda. Ora, se a ponte tem duas faixas de rodagem, uma em cada
sentido, qual delas é a da esquerda? A do sentido Norte-Sul ou a inversa?
Por último, tem
vindo a ser escrita uma palavra que não existe: segundo o “Dicionário do Português Atual
Houaiss”, edição do Círculo de Leitores, de 2011, o termo “coadoção”
não existe!
Depois, todos
se admiram do linguajar dos jovens e do seu modo de escrever, tipo sms.
In Jornal de Matosinhos nº 1728, de 31 de Janeiro de 2014