A Junta de
Freguesia de Matosinhos-Leça da Palmeira propõe-se fazer a aculturação das
respectivas populações através de eventos inauditos, isto é, de eventos nunca
(jamais) vistos pelas respectivas populações.
Existe aculturação
quando duas ou mais culturas entram em contacto uma com a outra, interagindo.
Sempre foi assim ao longo dos séculos e continua a ser nesta época de
globalização.
Não obstante
Portugal ser o País europeu com a menor diversidade cultural (é o de cultura
mais uniforme de todos os países europeus) há quem pensa que no seu município
existem populações que necessitam de ser aculturadas através de eventos
inauditos.
A aculturação
é um processo lento – um contínuo
constituindo paulatino – ao longo de várias gerações, e que se verifica em
Portugal, como em muitos outros países, quer a nível de grupos (a aculturação
resulta em mudanças para a cultura, costumes e instituições sociais, como, por
exemplo, as mudanças na alimentação, nas roupas e na linguagem), quer a nível
individual (as mudanças no comportamento diário, mas com inúmeras medidas de
bem-estar psicológico e físico).
Exemplos
vindos de terras longínquas não nos faltam:
»» Da
Inglaterra, a conhecidíssima mimi-saia;
»» Das terras
do “Tio Sam” a americanização é enorme: o “menino
Jesus” foi substituído pelo “Pai
Natal”, o “presépio” foi
substituído pela “árvore de natal” e,
mas recentemente, chegou o “dia das
bruxas”, para não abordar a questão dos hambúrgueres (a MacDonalds, o BurgerKing) e dos cafés (Stabuks)
e da música (o jazz, o rock and roll, os blues, a country music);
»» De França
vêm as influências da “nouvelle cuisine
française” que, gradualmente, vão destruindo as nossas melhores tradições
gastronómicas;
»» Do Brasil,
para além do famigerado acordo ortográfico, vêm as tradições carnavalescas
substituindo as velhas tradições nacionais (em tudo o que é localidade as
escolas de samba nascem que nem cogumelos) e influências gastronómicas (a picanha) e musicais (o samba, a bossa nova) e mesmo religiosas.
Isto
a nível Nacional.
A
nível Local assiste-se à enorme influência do grande município mais a Sul, que
constitui uma única cidade, a cidade do Porto.
As
“Festas das Sete Bicas”, na senhora
da Hora, são uma sombra do passado e, no restante município, o feriado
municipal – o do “Senhor de Matosinhos”
– vai gradualmente cedendo do “S. João”.
Longe
vão os tempos em que eram milhares os que, de todo o País, acorriam às duas
festas, agora, praticamente mortas.
No
feriado municipal de Matosinhos só fecham os serviços públicos. Tudo o mais
está aberto. E quando é o feriado municipal do Porto – o dia de S. João – todos os estabelecimentos comerciais e escritórios
de Matosinhos estão fechados. Nesse dia, Matosinhos mais parece uma cidade
fantasma!!
Sabendo-se,
como se sabe, que a aculturação é um processo lento e contínuo, aguardarei para
ver os inauditos eventos que vão aculturar as populações de Leça da Palmeira e
de Matosinhos, como se os eventos por si sós, e sejam elas quais forem, possam
contribuir para a aculturação de quaisquer populações.
As
suas culturas são assim tão díspares para que se possam influenciar mutuamente?
Ou a pretendida aculturação visa a integração do município de Matosinhos no do
Porto?
In
Jornal de Matosinhos nº 1725, de 10 de Janeiro de 2014
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