No conjunto
de impostos cuja receita se destina às autarquias locais (municípios
portugueses) avultam:
- O imposto
sobre o património imobiliário – o IMI
- O imposto
sobre as transmissões onerosas de imóveis – o IMT
O Governo
Central, através da Autoridade Tributária e Aduaneira (resultante da fusão da Direcção-Geral
das Contribuições e Impostos e das Alfândegas) cobra esses impostos, retirando
uma percentagem, a título de despesas de cobrança, e entrega as verbas aos
respectivos municípios.
Muito
recentemente, os senhores autarcas da “Frente Atlântica” vieram lamentar-se
que o Governo da República lhes prometeu um aumento enorme das receitas do IMI,
mas que os números agora vindos a público são de uma diminuição e não de
aumento, pondo em risco o cumprimento dos orçamentos dos municípios.
Segundo um
dos presidentes de câmara, os prejuízos são na ordem dos 4,5 milhões de euros
para o Porto, dos 3 milhões de euros para Vila Nova de Gaia e de 6% do
orçamento de Matosinhos [JN de 17/01/2014] (curiosamente, para Matosinhos, o
montante em euros não é especificado).
Há sempre um
culpado nestas coisas: o Governo Central, o cobrador dos impostos que, no
cumprimento da Lei, procedeu à reavaliação generalizada do património imobiliário
urbano o que levou a uma baixa do valor patrimonial e, como consequência, uma
baixa do IMI.
Ora, como é
do senso comum, mas não para os senhores autarcas, se os prédios urbanos vão
envelhecendo, o seu valor patrimonial vai, também, “envelhecendo”. E como não há prédios novos para alimentar o esquema
financeiro (a especulação imobiliária) em que assentavam as finanças dos
municípios até muito recentemente, estes vão vendo as suas receitas baixarem.
Essa quebra
das receitas irá reflectir-se, obviamente, nos orçamentos municipais, e os
autarcas, agora, exigem que o Governo Central, o tal cobrador dos impostos
municipais, encontre “outras formas de garantir a sustentabilidade
dos municípios urbanos do País”. E com um argumento muito interessante:
apesar do “brutal aumento de impostos”,
do “saque fiscal”, do “roubo aos portugueses”, todo este
esforço “foi totalmente transferido para o Orçamento Geral do Estado e não para
os municípios”! (*)
E tinha de
ser assim. Quem tem de pagar a Dívida Nacional não são os municípios mas o
Governo Central. E o Governo Central, e muito bem, transfere para os municípios
aquilo que estes têm direito, à luz da lei vigente, ou Portugal não fosse um
Estado de Direito Democrático.
No passado,
defendi que os impostos municipais deveriam ser cobrados segundo o modelo
actual, por economia de escala.
Agora, mudei
de ideias: a liquidação e a cobrança dos impostos municipais deveriam ficar a
cargo dos respectivos municípios que, assim, para além de ficarem a saber
quanto custa liquidar e cobrar os impostos, ficariam também com o ónus dessa
cobrança.
É que os
cobradores dos impostos municipais (que não os seus destinatários) são
apelidados, por tudo e por nada, de ladrões, de gatunos e de outras expressões
que não constam no léxico dos dicionaristas, enquanto os destinatários finais
desses impostos, e que os gastam a seu bel-prazer, passam por bonzinhos. São
eles que “dão as casas”, que “dão espectáculos de fogo de artifício”,
que “financiam as associações”, que “passeiam os nossos velhinhos”, que “constroem as nossas piscinas e os nossos
estádios”, que fazem as rotundas, que … etc., etc., etc. … E, agora, vêm
exigir um aumento generalizado dos outros impostos para “engordarem” os
orçamentos municipais!!
Ora, se os gastadores dos impostos municipais
fossem também os seus cobradores “outro galo cantaria”.
Como qualquer
dona de casa sabe, gerir com os cofres a abarrotar é uma coisa. Agora com eles
vazios …
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(*) Quem é
que fixa as taxas do IMI? Se a cobrança do IMI é assim tão má, o que levou que
muitos autarcas abdicassem de parte do IRS que lhes caberia!?
In Jornal de Matosinhos nº 1727, de 24 de Janeiro de 2014
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