Face
à actual crise orçamental, fruto de um desvario nas despesas públicas, isto é,
durante demasiados anos, as receitas do Estado, no seu sentido mais amplo, não
foram suficientes para fazer face às crescentes despesas, pelo que se
contraíram empréstimos, perdão, “vendeu-se
dívida”.
Assim,
nasceu o colossal défice do Estado, uma dívida que não foi feita nos tempos
recentes, mas que têm de ser os actuais contribuintes a pagá-la, ou não fosse
essa dívida de todos nós.
Para
pagar essa dívida, nasceram inúmeras taxas e impostos, muitos deles travestidos
de taxas, a mais falada delas é a Contribuição Especial de Solidariedade (CES).
Surgiu,
recentemente, em artigo de opinião, a sugestão da CES ser substituída pela CEM
(Contribuição Especial de Mobilidade) a ser paga pelos automóveis matriculados
em Portugal, em função da cilindrada e da antiguidade. Isto porque, segundo o
mesmo autor, em Portugal há demasiados automóveis, e, portanto, diminuiu a
utilização dos transportes públicos.
Em
minha opinião, será um regresso a um passado tributário não assim tão
longínquo: as carroças pagavam taxas para poderem circular nas vias públicas e
os cavalos também. Assim, se cada automóvel (carroça) pagar o seu imposto
relativamente à sua potência (aos cavalos) estamos em sintonia com o passado –
só os mais ricos poderão ter uma carroça
e cavalos para o seu transporte
privado, desaparecendo, assim, a democratização do uso do automóvel.
Como
todos nós temos um pouco de legislador fiscal, atrevo-me, por isso, a “pedir” a
repristinação de um imposto medieval. A lutuosa, segundo a qual, o morto, por
ter morrido, deixava de pagar as suas taxas ao senhor Bispo, e portanto tinha
que o indemnizar (indemnização pelas receitas cessantes).
Modernamente,
a lutuosa seria a compensação do morto pelos impostos futuros que deixou de
pagar ao Estado, no seu sentido mais amplo. O morto, porque deixou de viver (monsieur de La Palisse não diria
melhor), tem de indemnizar todos os entes públicos pelas despesas que não fará
mais, pelos impostos que não pagará mais. A água e a electricidade que deixou
de consumir (as taxas de saneamento, as taxas da utilização dos recursos
hídricos), pelo IRS que deixou de pagar, pelas contribuições à Segurança Social
(caso estivesse em idade laboral, desempegado ou não) que não mais pagará, pelo
IVA que deixou de pagar por não consumir mais, etc. etc.
Assim,
à medida que forem morrendo os nacionais, os cofres do Estado engordarão com
este velho imposto e, se pensionistas, melhor ainda. Além de o Estado deixar de
pagar as suas pensões ainda receberia a indemnização pela morte do pensionista.
Nada
mal. Pois não?! E esta hein?, como diria Fernando Pessa.
In Jornal de Matosinhos nº 1735, de 21 de Março de 2014
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