No abolido
regime monárquico havia uma união entre o Estado e a Igreja Católica, a tal
ponto que não era permitida em Portugal qualquer outra religião. Era tão
profunda essa união que não podia haver um português que não fosse católico.
Ora, essas
ideias, por absurdas, foram minando a monarquia que caiu em 1910, e logo foram
postos em prática os ideais republicanos: a separação entre o Estado e a
Igreja. Isto é, o Estado, enquanto tal, não professa qualquer religião, seja
ela qual for. O Estado Português passou a ser laico. E, assim, os servidores do
Estado, enquanto tais, podem professar livremente a sua religião sem se
imiscuírem nas funções do Estado.
Um
funcionário público ou político, no exercício das suas funções, não pode
professar qualquer religião, embora, enquanto cidadão, possa fazê-lo
livremente.
Por isso, é
de estranhar que tantos anos depois da implantação dos ideais republicanos,
vejamos essa confusão, a promiscuidade existente entre o Estado, o tal que
deverá ser laico, e a Igreja Católica.
Um Estado ou
é Teocrático ou não o é. Não pode existir um Estado simultaneamente Laico e
Teocrático.
Vem a
propósito das diversas inaugurações, um pouco por todo o País, de edifícios
construídos com dinheiro de todos os contribuintes em que aparece, sempre, um
membro da Igreja Católica.
Os dinheiros
públicos, pagos por todos os portugueses, com ou sem religião, são gastos em
obras privativas da Igreja Católica, quando o deveriam ser exclusivamente a
cargo dos respectivos membros. Tal como fazem as demais religiões que, além de suportarem
o IVA nas suas obras, não recebem fundos estatais.
Esse
comportamento leva-nos às seguintes conclusões:
1.
–
A República Portuguesa continua a ser uma monarquia travestida em que não
existe uma verdadeira separação entre o Estado e a Igreja Católica;
2.
–
As monarquias modernas, por exemplo, em Espanha e na Inglaterra, ainda que
formalmente monárquicas são, no fundo, mais republicanas que Portugal (1).
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(1)
Na recente entronização do Rei de Espanha – D. Filipe
VI – não esteve presente a Igreja Católica nem os seus símbolos. Foi
entronizado no Parlamento Nacional, frente aos representantes de todo o povo
espanhol. O Rei é Rei de todos os espanhóis, independentemente da religião que
professem, dos agnósticos e dos ateus. É Rei de todos e não apenas de uma parte
da população ainda que seja a maioria. É um sinal dos tempos.
No Reino Unido, a Rainha de Inglaterra é também Chefe da
Igreja Anglicana. Mas os membros do Governo e os funcionários públicos, no
exercício das suas funções, não têm religião. Têm-na, ou não, na sua esfera
privada.
IN Jornal de Matosinhos nº 1753, de 25 de Julho de 2014