As redes
sociais e alguma da comunicação social escrita indignaram-se (e de que
maneira!) com a necessidade de adaptação dos acessos exteriores e interiores da
Casa da Democracia de modo a
facilitar a deslocação de um Deputado da Nação recém-eleito para o cabal
exercício das funções para que fora eleito.
Pena é
que muitos dos que agora se indignaram com as acessibilidades aos e nos
edifícios públicos e privados só o façam pontualmente, e quando o fazem é com
insultos ou palavras menos próprias de cidadãos civicamente responsáveis, e não
sempre que lhes aparece algo que deverá indignar toda a gente (*).
É
público e notório que os acessos a inúmeros serviços públicos e monumentos
nacionais ainda não respeitam a legislação em vigor (o Decreto-Lei nº 163/2006,
de 8 de Agosto) tal como muitos dos edifícios privados também não a respeitam.
E cada
vez há mais obstáculos.
Por
exemplo:
As
paragens dos transportes públicos de passageiros devem ser feitas de modo a que
os seus utentes acessem facilmente às viaturas. Mas não é isso o que acontece,
dado que, por recentes alterações na sinalização horizontal, essas paragens
localizam-se no meio da via pública e não já nos passeios.
A alguns
estabelecimentos comerciais recentemente inaugurados – alguns deles de saúde –
só se pode aceder através de uma escadaria. Outros, mais antigos, têm soleira
muito acima do legalmente previsto. Noutros ainda, o botão de abertura da porta
está a cerca de 160 centímetros do solo. Outros ainda têm uma mola com
demasiada força que não pode ser aberta com facilidade.
Há
escadarias com corrimãos mas um pouco acima, um pilar interrompe o contacto com
os corrimãos. Para que é que servem, então?
As
autoridades administrativas a quem compete a fiscalização das acessibilidades,
nos termos do artigo 12º do supracitado Decreto-Lei, fazem vista grossa.
E os
cidadãos só se dão conta dos factos quando alguém, dito socialmente mais importante – como se todos não tivessem a mesma
dignidade social –, como um Deputado na Nação, por exemplo, possa ser afectado.
Quando o
agora Deputado da Nação quiser visitar a Casa de Chá da Boa Nova, como vai ser?
Até aqui ninguém reagiu!
_________________________________________________________________________
(*)
Quando foi abatido a tiro um leão no Zimbabué, todos se indignaram com o facto,
mas esqueceram-se que graças à licença paga pelo atirador, foram pagos os
salários dos funcionários do parque. Como todos os demais interessados tiveram
medo das consequências da sua acção, deixou de haver “assassinos de animais
selvagens”. E sem essas licenças não houve dinheiro para pagar os salários dos
guardas que, em vingança por terem os salários em atraso, assassinaram e
mutilaram um sem-número de elefantes, muitos deles juvenis. Alguém protestou?
Curiosamente, os críticos do dentista norte-americano que pagara, ainda que
indirectamente, os salários dos guardas, nada disseram sobre essa mortandade.
IN Jornal de Matosinhos nº 1820, de 6 de Novembro de 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário