sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ACESSOS


            As redes sociais e alguma da comunicação social escrita indignaram-se (e de que maneira!) com a necessidade de adaptação dos acessos exteriores e interiores da Casa da Democracia de modo a facilitar a deslocação de um Deputado da Nação recém-eleito para o cabal exercício das funções para que fora eleito.

            Pena é que muitos dos que agora se indignaram com as acessibilidades aos e nos edifícios públicos e privados só o façam pontualmente, e quando o fazem é com insultos ou palavras menos próprias de cidadãos civicamente responsáveis, e não sempre que lhes aparece algo que deverá indignar toda a gente (*).

            É público e notório que os acessos a inúmeros serviços públicos e monumentos nacionais ainda não respeitam a legislação em vigor (o Decreto-Lei nº 163/2006, de 8 de Agosto) tal como muitos dos edifícios privados também não a respeitam.

            E cada vez há mais obstáculos.

            Por exemplo:

            As paragens dos transportes públicos de passageiros devem ser feitas de modo a que os seus utentes acessem facilmente às viaturas. Mas não é isso o que acontece, dado que, por recentes alterações na sinalização horizontal, essas paragens localizam-se no meio da via pública e não já nos passeios.

            A alguns estabelecimentos comerciais recentemente inaugurados – alguns deles de saúde – só se pode aceder através de uma escadaria. Outros, mais antigos, têm soleira muito acima do legalmente previsto. Noutros ainda, o botão de abertura da porta está a cerca de 160 centímetros do solo. Outros ainda têm uma mola com demasiada força que não pode ser aberta com facilidade.

            Há escadarias com corrimãos mas um pouco acima, um pilar interrompe o contacto com os corrimãos. Para que é que servem, então?

            As autoridades administrativas a quem compete a fiscalização das acessibilidades, nos termos do artigo 12º do supracitado Decreto-Lei, fazem vista grossa.

            E os cidadãos só se dão conta dos factos quando alguém, dito socialmente mais importante – como se todos não tivessem a mesma dignidade social –, como um Deputado na Nação, por exemplo, possa ser afectado.

            Quando o agora Deputado da Nação quiser visitar a Casa de Chá da Boa Nova, como vai ser?

Até aqui ninguém reagiu!



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            (*) Quando foi abatido a tiro um leão no Zimbabué, todos se indignaram com o facto, mas esqueceram-se que graças à licença paga pelo atirador, foram pagos os salários dos funcionários do parque. Como todos os demais interessados tiveram medo das consequências da sua acção, deixou de haver “assassinos de animais selvagens”. E sem essas licenças não houve dinheiro para pagar os salários dos guardas que, em vingança por terem os salários em atraso, assassinaram e mutilaram um sem-número de elefantes, muitos deles juvenis. Alguém protestou? Curiosamente, os críticos do dentista norte-americano que pagara, ainda que indirectamente, os salários dos guardas, nada disseram sobre essa mortandade.



IN Jornal de Matosinhos nº 1820, de 6 de Novembro de 2015

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