É
habitual ouvir-se e ler-se na Comunicação Social algumas “boutades” dos nossos
políticos, algumas das quais não passam de “sound bytes”: frases soltas, muitas
delas sem qualquer sentido, mas que ficam nos ouvidos dos eleitores.
Desta
vez, um dirigente partidário afirmou que “quem
não vota é cúmplice do Governo!”, isto é, os abstencionistas são cúmplices
do Governo.
Ora,
é por demais sabido que a abstenção é elevada. Mas porque não votam os
portugueses?
1. Os cadernos eleitorais,
como se sabe, não espelham o número real de eleitores, pelo que os que estão a
mais nos cadernos eleitorais não votam – os “eleitores fantasma” são cúmplices do Governo!
2. Eleitores há que, entre o
recenseamento e a votação, morrem; não podem, portanto, votar – os mortos são cúmplices do Governo!
3. Há eleitores que, por
razões de saúde, se encontram hospitalizados ou internados noutros
estabelecimentos pelo que não podendo sair, não votam – os doentes são cúmplices do Governo!
4. Há eleitores que, por
razões profissionais, se encontram deslocados, dentro ou fora do país (migraram
para obterem o sustento das suas famílias) e, por estarem longe das assembleias
de voto, não votam – os migrantes são cúmplices do Governo!
5. Há um numeroso grupo de
eleitores que querendo votar (e até o querem fazer) mas que disso estão
impossibilitados devido à existência de barreiras arquitectónicas (*). Neste
grupo, englobam-se todos aqueles que o legislador, na sua sapiência, apelida de
“portadores de deficiência”. E como
não podem vencer as barreiras arquitectónicas não votam – os “portadores de deficiência”
também são cúmplices do Governo!
6. Outros há que, por razões
filosóficas ou religiosas, não votam. É-lhes indiferente quem quer que esteja
no governo – os politicamente neutros são cúmplices do Governo!
7. Há um grupo de eleitores
que não vota porque está a executar as suas tarefas profissionais e,
consequentemente, não pode votar – os que trabalham são cúmplices do Governo!
8. Finalmente, há um grupo
que não vota porque sim – não vota porque não quer, não se está para incomodar,
tem mais que fazer (está na praia, por exemplo) e até porque, mais tarde, quererão
dizer: “eu não votei neles”. Estão-se
nas tintas para o País – os que se “estão nas tintas para o País” são
os verdadeiros cúmplices do Governo!
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(*) Segundo se diz, Portugal é o
País da Europa, quiçá do Mundo, que tem as melhores leis sobre a integração
social das pessoas com deficiência. Será!? Mas não as aplica!! As barreiras nas
vias públicas continuam, os acessos aos edifícios (existem elevadores onde não
cabe uma cadeira de rodas!), aos estabelecimentos comerciais, aos escritórios, aos
consultórios, muitos deles médicos, a clínicas e, pasme-se!, até aos hospitais
públicos, sendo disso exemplo paradigmático o Hospital Pedro Hispano, em
Matosinhos. Os seus acessos não são para doentes, mas para verdadeiros atletas!
In Jornal de Matosinhos nº 1738, de 11 de Abril de 2014
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