Ao longo dos anos, o conceito de Grande Porto foi mudando
ao sabor das correntes políticas com vista à obtenção de força no concerto
nacional, isto é, contra o poder concentracionário lisboeta.
Mas, porque essa união é artificial, os objectivos nunca foram
nem serão atingidos.
É que o Grande Porto passou a abranger
municípios que nada, mas mesmo nada, têm a ver com o Porto – dele estão
afastados algumas dezenas de quilómetros e a descontinuidade geográfica é
patente.
De facto, o que une Arouca, Espinho, Oliveira de Azeméis,
Paredes, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, São João da
Madeira, Trofa, Vale de Cambra e Vila do Conde a Gondomar, à Maia, a
Matosinhos, ao Porto e a Valongo e a Vila Nova de Gaia?
Não existem, por exemplo, infra-estruturas comuns a todos
eles, como por exemplo transportes públicos que unam os centros cívicos de
todos os municípios que constituem a área Metropolitana do Porto.
Surgiu, agora, a Frente
Atlântica que, por sua vez, integra, dos 17 municípios da Área Metropolitana
do Porto apenas três – Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia – com um argumento
velho de séculos quando é oportuno. É que a política tem razões que a razão
desconhece: descobriram, finalmente!, que há uma descontinuidade geográfica na
orla marítima portuguesa. Isto é, segundo os mapas, não há contiguidade entre
Espinho e Vila Nova de Gaia e entre Vila do Conde e Póvoa de Varzim com
Matosinhos. E assim é, de facto.
Tal como não existe uma contiguidade geográfica entre o Grande
Porto com Arouca, Espinho, Oliveira de Azeméis, Paredes, Póvoa de
Varzim, São João da Madeira, Trofa, Vale de Cambra, Vila do Conde.
Basta olhar-se para um bom mapa para saltar aos olhos que
a construção da Área Metropolitana do Porto é puramente política, artificial,
portanto, já que nada há que una esses municípios.
A conurbação é um conceito geográfico sério para ser
levado com seriedade pelos políticos. Mas não o é (*). E depois, quando surgem
as oportunidades na defesa de interesses que só a alguns dizem respeito, os
outros são postergados com argumentos interessantes, “deitando-se às urtigas” os
valores que conduziram à união anterior.
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(*) Conurbação é um conceito geográfico para designar o fenómeno derivado da expansão da
malha urbana que vai ocupando os terrenos adjacentes às cidades a ponto de as
unirem, constituindo uma única malha urbana como se fosse apenas uma cidade. Os
limites municipais deixam de ser apercebidos e começam a ser utilizados
conjuntamente as mesmas infra-estruturas e os mesmos serviços.
É o que acontece, por exemplo, quem sai do Porto, da
Areosa, pela Av. D. Afonso Henriques: passa pelos municípios de Porto,
Gondomar, Maia e Valongo sem que disso se dê conta. E na Estrada da
Circunvalação: quem nela circula não sabe quando sai de Matosinhos e entra no
Porto ou em Gondomar. Ou quem sai da Foz Velha e entre em Matosinhos-Sul não se
apercebe que mudou de município.
IN Jornal de Matosinhos nº 1784, de 27 de Fevereiro de 2015
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