Para o cidadão comum, a estatística é a arte de provar a
mentira, já que, decerto, lembrar-se-ão todos das questões do frango ou das
bebidas ou do consumo de tabaco (*).
Quando se utilizam percentagens e não números concretos,
os números constitutivos das estatísticas são torturados até dizerem o que
convém a cada um dos autores, isto é, as percentagens são utilizadas de
harmonia com os interesses individuais no terreno.
Os
índices são isso mesmo: percentagens sobre um valor imaginário. O rendimento
per capita, o consumo per capita, as taxas do desemprego, a taxa da dívida
pública, etc, etc. nada dizem de concreto ao cidadão comum.
Emprego / Desemprego:
Segundo
o INE, Portugal tinha, em 2014, uma
população residente de 10.374.822 indivíduos, entre nacionais e estrangeiros.
Considerando a população entre os 15 e os 74 anos, a população empregada, em
Junho de 2015, era de 4.492.700, tendo aumentado 24.600, e os desempregados
636.400.
Comparando
os dados mais recentes:
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Junho de 2014
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Junho de 2015
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População empregada (dos 15 aos 74 anos)
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4.437.500
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4.492.700
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População desempregada (dos 15 aos 74 anos)
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741.600
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636.400
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Ainda,
segundo o INE, no Município de Matosinhos, havia, em Junho de 2015, 11.219
desempregados, sendo 5.504 homens e 5.715 mulheres. Do total dos desempregados,
875 procuravam o 1º emprego e 10.344 um novo emprego. Destes, 6.032 estavam à
procura de emprego há mais de um ano.
Dívida Pública:
Fala-se
muito em % do PIB, mas nada se diz em valores absolutos. O valor relativo
(percentual) variará não apenas com a subida ou a diminuição do montante em
dívida, mas também em função do aumento ou da diminuição do Produto Interno. Também,
este valor percentual nada diz ao cidadão comum.
Agora se
dissermos que a dívida pública de um país, seja ele qual for, tem origem no
excesso das despesas públicas relativamente às receitas dos impostos e taxas –
o défice orçamental –, sendo que esse excesso de despesa é pago através de
empréstimos contraídos (entre os seus nacionais, como faz a Itália, ou no
estrangeiro, como faz Portugal), a percepção do cidadão já será outra.
E essa
evolução tem sido a seguinte:
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Em 31 de Maio de 2011
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164.348 M€
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Em 31 de Dezembro de 2011
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174.895 M€
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Em 31 de Dezembro de 2012
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194.466 M€
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Em 31 de Dezembro de 2013
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204.252 M€
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Em 31 de Dezembro de 2014
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217.126 M€
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Em 31 de Maio de 2015
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224.155 M€
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Verifica-se
que, entre 31 de Maio de 2011 e 31 de Maio de 2015, a dívida pública aumentou
59.807 M€, não obstante todos os sacrifícios feitos pelos residentes em
Portugal, por via de diminuição dos rendimentos (salários e pensões) e o aumento
dos impostos.
Mas
temos que ser intelectualmente honestos e notar que, em 2011, Portugal pediu um
empréstimo de 78.000 M€ à Troika, que
foi sendo recebido em tranches trimestrais, de harmonia com as avaliações
sucessivas feitas, ao tempo, pela mesma Troika.
Se isso não tivesse acontecido, a dívida pública actual seria bem menor, seria,
em 31 de Maio de 2015, de 146.155 M€ (sem considerar os juros a pagar pela
contratação de tal empréstimo). Mesmo assim, uma exorbitância!
Enquanto
não for reduzida drasticamente a despesa pública (já que está esgotada a
possibilidade de aumento dos impostos), o défice orçamental continuará a existir,
com o consequente aumento da dívida pública.
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(*) Aqueles exemplos que vêm nos jornais: o consumo per capita de álcool, de certos produtos
(frango, por exemplo), em que o consumo é de x litros de álcool por habitante,
(sabendo-se que há muita gente que não bebe álcool), de, num determinado
evento, o consumo ter sido de ½ frango per
capita, quando havia outros produtos alimentares a serem servidos.
IN Jornal de Matosinhos nº
1808, de 14 de Agosto de 2015
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