Um pouco por todo o lado, quando se
vêem manifestações, os apelos, as palavras de ordem e os cartazes abordam
apenas os direitos dos manifestantes, das populações em geral.
Jamais vi o
mais leve sinal que os cidadãos, para além dos direitos que exigem ter, devem
também os correlativos deveres, como outra face da mesma moeda: não há direitos
sem deveres!
Em democracia
– o Governo do povo, para o povo e pelo povo – os democratas reconhecem que não
têm apenas direitos, têm também deveres, desde logo a vigilância constante da
actuação dos governos, nos diversos escalões em que se divide a Administração Pública.
Em Portugal,
a divisão administrativa é simples: a Freguesia, o Município, o Governo Autónomo
(Açores e Madeira) e o Governo da República que se encontra subdividido em
órgãos desconcentrados – os seus Ministérios e os serviços no terreno.
Mas isso só
não basta:
·
O respeito pela Lei – a Lei emanada do órgão
legislativo, cujos membros foram eleitos pelos cidadãos em eleições livres, é a
manifestação da vontade colectiva, pelo que deve ser cumprida por todos;
utilizando uma expressão em desuso, por desnecessária, “cumprir a lei nos termos em que nela se contém” é para todos, desde
o simples cidadão anónimo até ao membro mais alto da governação, seja ele o Rei
ou o Presidente da República. Todos, mas mesmo todos devem respeitar a Lei.
·
Pagar os impostos – para que o Estado (e o Estado
somos todos nós) possa cumprir os seus desígnios tem de ter as verbas
necessárias para o funcionamento da “máquina
do Estado”; como sabemos, se os impostos forem insuficientes, a despesa,
para se manter, tem de ser com injecção de capitais mutuados, o que implica
mais gastos, no futuro, com os juros desses mútuos;
·
Aceitar a autoridade do Estado, cumprindo e fazendo cumprir as
funções em que se encontrem investidos os Órgãos Estatais, acatando as
instruções dimanadas dos órgãos legítimos, desde a Junta de Freguesia até ao
topo da Hierarquia, passando pelas instruções dos Agentes da Lei, e dos
Funcionários Públicos no cumprimento das respectivas funções;
·
Respeitar as ideias dos demais
cidadãos, ainda que
contrárias às nossas, apanágio dos verdadeiros democratas; respeitar as ideias
de todos, por mais disparatadas que elas nos possam parecer, é o princípio de
uma democracia;
·
Respeitar as minorias, sejam elas étnicas ou religiosas ou
quaisquer outras. Todas elas têm de ser respeitadas e o respeito deve ser
mútuo.
____________________________________________________________________________
Nota:
Começou
a campanha eleitoral para as Eleições Europeias que são já depois de amanhã,
domingo, dia 25. Parece-me, pelo pouco que ouvi, que estas eleições não são
para eleger os nossos deputados no Parlamento Europeu, mas sim um referendo à
actuação do Governo. Se assim for, como parece que será, depois não se queixem
da actuação dos deputados portugueses no Parlamento Europeu e das suas ideias:
ninguém sabia o que cada um deles verdadeiramente pensava sobre a construção
europeia.
In Jornal de
Matosinhos nº 1744, de 23 de Maio de 2014
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