Nos últimos tempos, têm vindo
a ser utilizados, na Comunicação Social, os termos genocídio e extermínio, devido
aos acontecimentos mais recentes no Médio Oriente.
Temos que começar por definir
conceitos, sem o que todas as disposições consequentes deixam de ter qualquer
sentido.
O genocídio é um tipo de limpeza étnica, e pode ser definido
como a eliminação deliberada de seres humanos por motivos nacionais,
raciais e religiosos, constituindo, segundo as Nações Unidas, um crime contra a
humanidade.
Este termo não se perde na noite dos tempos. É bem recente (1944) e foi
utilizada pela primeira vez por Rafael Lemkin, cidadão polaco, que juntou dois
termos: a raiz grega genos (tribo,
família) à palavra latina caedere
(matar) – genoscaedere ---»
genocídio.
Extermínio será a eliminação
deliberada, violenta e total de algo ou alguém [(v.g. Cruzadas do Ocidente
contra os Cátaros (1209 a 1244)].
A História mostra-nos que, ao longo dos séculos, foram perpetrados
genocídios e extermínios de populações por razões políticas, étnicas ou
religiosas, especialmente na expansão territorial, como, a título meramente
exemplificativo, as acções de Átila
(434 a 453) ou de Gengis Khan (1162
a 1227), Hernan Cortês (1485 a
1547), no México, ou Francisco Pizarro
(1476 a 1541), nos territórios que, mais tarde, constituiriam o Perú.
Modernamente, o século XX viu a eliminação de milhões de seres humanos:
1 - Durante a I Guerra Mundial, a Turquia eliminou mais de 1,5 milhões de
arménios, 750 mil assírios, sem contar os milhares de gregos;
2 - Durante a II Guerra Mundial, foram eliminados, por razões políticas ou
étnicas, vários milhões de seres humanos:
·
A Alemanha eliminou, sistematicamente e por muitas formas, desde os
fuzilamentos às câmaras de gás, 6 milhões de judeus, muitos milhares de ciganos,
homossexuais, deficientes e outras minorias.
·
A União Soviética eliminou, por razões políticas, milhões de ucranianos à
fome (o Holodomor) e vários outros milhões nos campos de concentração da Sibéria
(no Gulag, de 1930 a 1960) para além de milhões de camponeses durante o
processo de colectivização das terras – “as
pessoas infames para a Pátria Mãe” no dizer de Estaline.
3 - Já nos nossos tempos:
·
Anexação do Tibete, pela China (1950);
·
Dos camponeses chineses que se opuseram à reforma agrária e que conduziu à
morte de mais de 20 milhões de seres humanos pela fome generalizada que se lhe
seguiu [ (1958 a 1961) – os “três duros
anos” da nomenclatura oficial chinesa];
·
A Revolução Cultural Chinesa que eliminou centenas de milhares de suspeitos
de deslealdade política ao regime, à figura e ao pensamento de Mao Tsé-Tung.
Curiosamente, ou talvez não, após a morte de Mao, os membros do “Grupo dos Quatro” foram condenados pelos
excessos cometidos, tendo a China passado a ser “um país com dois sistemas” – um regime comunista em que existe um
capitalismo verdadeiramente selvagem – sob a liderança do Partido Comunista,
conhecendo, desde então, o boom
económico que hoje a caracteriza.
·
O genocídio dos Ibos, na Nigéria (1967 a 1970), durante a Guerra do Biafra
– guerra da secessão da Federação Nigeriana, com a declaração da independência
do Biafra, em consequência dos massacres de Ibos, autênticos pogrons, em algumas cidades nigerianas;
·
No Camboja, pelos Kmers Vermelhos (entre 1975 e 1979), com condenação,
muito recente, dos responsáveis (2014);
·
Entre 1986 a 1989 – campanha do “Al-Anfal”, no Iraque, em que foram
utilizadas armas químicas contra aldeias de Curdos, Assírios, Iazidis e
Shabaks, tendo atingido o seu ponto alto em 16/03/1988 (a Sexta-feira
Sangrenta) em que foram utilizadas armas químicas contra os curdos na aldeia de
Halabja;
·
No Ruanda (1994) a eliminação da minoria Tutsi, que constituía 15% da
população, pelos Hutus, que eram a maioria (85%);
·
Dos Iazidis e dos Assírios, enquanto não-muçulmanos, às mãos das forças do
ISIS, no recém-fundado califado, em terras sírias e iraquianas (2014).
Assim, teremos:
Os massacres, enquanto acções
intencionais, conduzirão ao genocídio e, se continuarem, ao extermínio.
Genocídio - a eliminação intencional de
um povo, em altas percentagens.
Extermínio - a eliminação intencional e total
de um povo.
Face a estes conceitos, os senhores jornalistas deverão ter o máximo
cuidado na utilização das palavras, informando convenientemente os seus
leitores, para que não branqueiem a História, ou, então, para utilizar a
terminologia marxista-leninista, não passarão de uns “idiotas úteis”.
IN Jornal de Matosinhos nº
1757, de 22 de Agosto de 2014
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