sexta-feira, 22 de agosto de 2014

GENOCÍDIO E EXTERMÍNIO

         Nos últimos tempos, têm vindo a ser utilizados, na Comunicação Social, os termos genocídio e extermínio, devido aos acontecimentos mais recentes no Médio Oriente.
         Temos que começar por definir conceitos, sem o que todas as disposições consequentes deixam de ter qualquer sentido.
         O genocídio é um tipo de limpeza étnica, e pode ser definido como a eliminação deliberada de seres humanos por motivos nacionais, raciais e religiosos, constituindo, segundo as Nações Unidas, um crime contra a humanidade.
Este termo não se perde na noite dos tempos. É bem recente (1944) e foi utilizada pela primeira vez por Rafael Lemkin, cidadão polaco, que juntou dois termos: a raiz grega genos (tribo, família) à palavra latina caedere (matar) – genoscaedere ---» genocídio.
Extermínio será a eliminação deliberada, violenta e total de algo ou alguém [(v.g. Cruzadas do Ocidente contra os Cátaros (1209 a 1244)].
A História mostra-nos que, ao longo dos séculos, foram perpetrados genocídios e extermínios de populações por razões políticas, étnicas ou religiosas, especialmente na expansão territorial, como, a título meramente exemplificativo, as acções de Átila (434 a 453) ou de Gengis Khan (1162 a 1227), Hernan Cortês (1485 a 1547), no México, ou Francisco Pizarro (1476 a 1541), nos territórios que, mais tarde, constituiriam o Perú.
Modernamente, o século XX viu a eliminação de milhões de seres humanos:
1 - Durante a I Guerra Mundial, a Turquia eliminou mais de 1,5 milhões de arménios, 750 mil assírios, sem contar os milhares de gregos;
2 - Durante a II Guerra Mundial, foram eliminados, por razões políticas ou étnicas, vários milhões de seres humanos:
·        A Alemanha eliminou, sistematicamente e por muitas formas, desde os fuzilamentos às câmaras de gás, 6 milhões de judeus, muitos milhares de ciganos, homossexuais, deficientes e outras minorias.
·        A União Soviética eliminou, por razões políticas, milhões de ucranianos à fome (o Holodomor) e vários outros milhões nos campos de concentração da Sibéria (no Gulag, de 1930 a 1960) para além de milhões de camponeses durante o processo de colectivização das terras – “as pessoas infames para a Pátria Mãe” no dizer de Estaline.
3 - Já nos nossos tempos:
·        Anexação do Tibete, pela China (1950);
·        Dos camponeses chineses que se opuseram à reforma agrária e que conduziu à morte de mais de 20 milhões de seres humanos pela fome generalizada que se lhe seguiu [ (1958 a 1961) – os “três duros anos” da nomenclatura oficial chinesa];
·        A Revolução Cultural Chinesa que eliminou centenas de milhares de suspeitos de deslealdade política ao regime, à figura e ao pensamento de Mao Tsé-Tung. Curiosamente, ou talvez não, após a morte de Mao, os membros do “Grupo dos Quatro” foram condenados pelos excessos cometidos, tendo a China passado a ser “um país com dois sistemas” – um regime comunista em que existe um capitalismo verdadeiramente selvagem – sob a liderança do Partido Comunista, conhecendo, desde então, o boom económico que hoje a caracteriza.
·        O genocídio dos Ibos, na Nigéria (1967 a 1970), durante a Guerra do Biafra – guerra da secessão da Federação Nigeriana, com a declaração da independência do Biafra, em consequência dos massacres de Ibos, autênticos pogrons, em algumas cidades nigerianas;
·        No Camboja, pelos Kmers Vermelhos (entre 1975 e 1979), com condenação, muito recente, dos responsáveis (2014);
·        Entre 1986 a 1989 – campanha do “Al-Anfal”, no Iraque, em que foram utilizadas armas químicas contra aldeias de Curdos, Assírios, Iazidis e Shabaks, tendo atingido o seu ponto alto em 16/03/1988 (a Sexta-feira Sangrenta) em que foram utilizadas armas químicas contra os curdos na aldeia de Halabja;
·        No Ruanda (1994) a eliminação da minoria Tutsi, que constituía 15% da população, pelos Hutus, que eram a maioria (85%);
·        Dos Iazidis e dos Assírios, enquanto não-muçulmanos, às mãos das forças do ISIS, no recém-fundado califado, em terras sírias e iraquianas (2014).
Assim, teremos:
Os massacres, enquanto acções intencionais, conduzirão ao genocídio e, se continuarem, ao extermínio.
Genocídio - a eliminação intencional de um povo, em altas percentagens.
Extermínio - a eliminação intencional e total de um povo.
Face a estes conceitos, os senhores jornalistas deverão ter o máximo cuidado na utilização das palavras, informando convenientemente os seus leitores, para que não branqueiem a História, ou, então, para utilizar a terminologia marxista-leninista, não passarão de uns “idiotas úteis”.


IN Jornal de Matosinhos nº 1757, de 22 de Agosto de 2014

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