“A corrupção social ou estatal é
caracterizada pela incapacidade moral dos cidadãos de assumirem compromissos
voltados ao bem comum. Vale dizer, os cidadãos mostram-se incapazes de fazer
coisas que não lhes traga uma gratificação pessoal”
Calil Simão
Importa, antes de mais, definir o conceito de corrupção
que pode ser definido como sendo o acto de oferecer algo para obter uma
vantagem, em benefício de alguém, prejudicando outro ou outros.
As formas de corrupção variam de país para país, sendo que
algumas práticas podem ser legais nuns e ilegais noutros, embora o suborno, a
extorsão, o nepotismo, o clientelismo e o peculato sejam, na generalidade,
proibidos.
Um estado de corrupção generalizada é conhecido como uma
cleptocracia, literalmente, “governado
por ladrões”.
Como surge a corrupção?
Desde as mais longínquas noites dos tempos, o poder
político encontra-se hierarquizado, em forma piramidal, em que o poder se vai
concentrando cada vez mais num só ou num grupo relativamente pequeno. Acrescem,
ainda, as regras protocolares que regulam o comportamento dos diversos agentes
(quais os gestos e os comportamentos que são devidos pelos subalternos a quem
ocupa os lugares superiores da pirâmide) e, com o decorrer do tempo, ocorre a transformação
da personalidade dos titulares do poder político passando a usar o poder em
proveito próprio. E é dentro dessa transformação que Lord Acton afirmou que o poder tende a corromper, e o poder absoluto
corrompe absolutamente. E ocorre em todos os tipos de sociedades, desde as
mais ferozes ditaduras às democracias mais desenvolvidas, sendo praticamente
impossível provar a sua existência como a sua ausência, daí que alguns
organismos se socorrem da sensibilidade das populações – o índice de percepção
da corrupção (*).
A corrupção não é um crime sem vítimas. Os dinheiros
públicos deixando de ser investidos em infra-estruturas efectivamente
necessárias, em favor da melhoria do nível de vida dos cidadãos, torna a
sociedade globalmente mais pobre, porque os dinheiros públicos, que são fruto
de impostos ou de empréstimos contraídos (pagos posteriormente pelos impostos),
aplicados em infra-estruturas não socialmente produtivas gerará pobreza
generalizada. É que a actividade económica não vai ao encontro das necessidades
reais das populações, mas dos interesses ilícitos dos agentes políticos em conluio
com um reduzido número de empresários, surgindo os “negócios à Mobuto” (**), as “empreitadas
à Minhota” (***) e o “cambão” (****).
Qual a causa mais comum que gera a corrupção? A meu ver,
é a falta de consciência social. De facto, segundo uma sondagem não muito
antiga, uma grande percentagem de portugueses diz que jamais votaria num
político envolvido em casos de corrupção. Mas, a propósito de notícias vindas a
lume sobre actos corruptos de alguns autarcas, ouviu-se dizer que “roubou mas
fez”.
Ora, é esta ausência de consciencialização pública que
gera a corrupção.
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(*) Para 2011, os 10 países com menor índice de corrupção
são, por ordem alfabética, a Austrália, o Canadá, a Dinamarca, a Finlândia, a
Holanda, a Nova Zelândia, Singapura, a Suécia e a Suíça. Por outro lado, os
países mais corruptos são, igualmente, por ordem alfabética, o Afeganistão, a
Coreia do Norte, o Iraque e a Somália.
(**) Relação entre os agentes privados e o poder político
do Zaire.
(***) Designação dos concursos públicos deferidos em
função dos envelopes entregues a uma figura local.
(****) Acordo entre as empresas de modo os concursos
públicos sejam ganhos pelo sistema de rotatividade entre elas.
Definição de conceitos:
»» Suborno – é a prática de dar algo de
valor material a alguém para que aja ou deixe de ver algo, podendo ir desde a
oferta de verbas em dinheiro vivo a bebidas, viagens…
»» Extorsão – é o acto de obrigar alguém a
praticar um acto ilícito por acção ou omissão através de ameaças ou violência,
com a intenção de obter vantagens patrimoniais;
»» Nepotismo – é o favorecimento de
parentes ou amigos próximos em detrimento de pessoas mais qualificadas para as
funções que foram nomeadas;
»» Clientelismo – é o favorecimento de
alguém para receber da outra apoio político;
»» Peculato – é a apropriação privada por
parte de um funcionário público de coisas móveis públicas.
IN Jornal de
Matosinhos nº 1774, de 19 de Dezembro de 2014
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