As movimentações de massa humanas, originadas pelos
tempos livres, fruto da evolução das relações laborais, podem ter várias
raízes, desde logo a sede do conhecimento de outras terras e de estranhas
gentes que as habitam. É o Turismo.
Para que exista turismo é necessário a conjugação de
vários factores:
» A existência de uma comunidade endinheirada;
» Que essa comunidade tenha tempo disponível para o ócio,
e
» Que haja segurança nos locais para onde deseja visitar.
Ao longo dos séculos, o conceito de Turismo foi evoluindo.
Na Antiguidade
Clássica, existia apenas o conceito do turismo religioso: as massas
populares que podiam fazê-lo deslocavam-se apenas para os locais de culto – aos
oráculos de Delfos e de Dódona, por exemplo, mas nunca para locais muito
distantes, já que a segurança das pessoas e bens, no trajecto, não estava
garantida. E, de 4 em 4 anos, deslocavam-se a Olímpia para assistirem aos Jogos
Olímpicos. E para a sua realização plena, havia tréguas entre as Cidades-Estado.
No Império Romano,
a classe dominante, já com bastantes posses e muito ócio, dirigiam-se para os
locais de veraneio, onde podiam passar os longos períodos estivais, e para as
águas termais, tudo graças à pax romana
e à vasta rede de estradas. E ao “desporto” sangrento nos stadium construídos propositadamente para o efeito.
Com a queda do
Império Romano do Ocidente, durante vários séculos, devido aos inúmeros
perigos, não havia turismo, embora houvesse alguns aventureiros (no verdadeiro
sentido do termo) que gostavam, de conhecer outras terras e outras gentes. Foi
neste período que nasceu o turismo religioso, em que inúmeras pessoas se
deslocavam (e ainda deslocam) em busca de locais de culto. O Caminho de
Santiago iniciou-se no primeiro quartel do século IX. E as deslocações dos
crentes Cristãos à Terra Santa, a partir de Veneza, e dos crentes Muçulmanos,
da Europa e do Norte de África, anualmente, a Meca, em cumprimento do Haij, um
dos cinco pilares do Islão.
Só com a Gesta dos Descobrimentos, durante todo o século
XV, é que o Turismo, no seu conceito actual, começou a desenvolver-se. As
viagens começaram a ser mais fáceis e os perigos diminuíam, embora não tivessem
ainda acabado, dado que havia sempre o perigo da actuação dos piratas e dos
salteadores de estrada.
Com o evoluir das diversas economias, de uma agricultura
rural de subsistência para uma economia de mercado (a troca de bens e de
produtos e a prestação de serviços), era habitual os universitários ingleses
complementarem a sua formação com deslocações ao estrangeiro (ao continente
europeu), durante períodos de 3 a 5 anos, Grand Tour – surgindo, então, os
primeiros hotéis.
Com a Revolução
Industrial, com a consolidação de uma burguesia que volta a dispor de
recursos, e o nascimento de novos meios de transporte mais rápidos (os caminhos
de ferro e os navios a vapor) em substituição dos animais de tiro e de trela e
da navegação à vela. O Mundo tornara-se um pouco mais pequeno.
Nos finais do
seculo XIX, uma rede de linhas férreas na Europa e na América do Norte,
aliada a uma frota nascente de “vapores”, possibilitou a migração de vastas
populações, tanto dentro da Europa como para a América e dentro dela.
Nesta época, surgiu, na Europa, o turismo de saúde, com a
construção de sanatórios e clínicas privadas, muitas delas ainda existentes.
Só após
a II Guerra Mundial, com a recuperação económica a o nascimento de uma classe
média com mais meios financeiros e com muito tempo livre, nos anos de 1950,
começou o verdadeiro turismo de massas – turismo massificara-se ou
democratizara-se.
Nos nossos dias, são alguns milhões que, diariamente,
buscam outras terras e outras gentes, utilizando os mais variados meios de
transporte, evoluindo ao longo dos tempos:
» Começando por ser o “Turismo do Sol e Praia” em busca de terras mais quentes e
aprazíveis: como a Tunísia, Cuba, Brasil, Egipto (Sharm-el-Sheik) e as Caraíbas;
» O crescente Turismo
Cultural, buscando a História dos locais de destino, como o Norte de
Itália, com Veneza à cabeça, o Norte de África (Egipto e Marrocos), Médio
Oriente (Jerusalém, São João de Acre, Palmira, Petra, Aqaba). E as grandes
cidades europeias (Paris, Londres, Roma, Berlim, Varsóvia, Viena, Amesterdão) ou
americanas (Nova Iorque) ou asiáticas (Tóquio, Pequim);
» Turismo
Religioso – em que os Crentes buscam conforto espiritual em alguns locais (Fátima,
Lourdes, Jerusalém, Santiago de Compostela, Roma, Meca);
» Turismo
Gastronómico – em que os turistas buscam a gastronomia local e os vinhos –
em perigo com as modernices do
gourmet (vão-se abastardando os sabores regionais) – e a gastronomia regional
vai mudando de lugar (1);
» Turismo
Paisagístico – em busca das belezas dos desertos (do Sahara, da Arábia), dos
vales do Rio Douro ou do Rio Colorado (Grand Canyon) e do Nilo, as Montanhas
Rochosas, os Alpes, os Pirenéus, o Lago Titicaca, a foz do Rio Iguaçu;
» Cruzeiros,
em navios cada vez maiores, em que os turistas, em grande número, têm a bordo muita
diversão e que, de porto em porto, fazem uma visita rápida aos locais mais
típicos.
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(1)
Um restaurante,
em Espanha, renunciou à sua Estrela Michelin para poder servir às populações a
gastronomia regional muito procurada pelos nacionais.
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Curiosidades:
Em 1851, nasceu a primeira agência de viagens – Thomas Cook and Son.
Em 1867, nasceu o voucher
(documento que permite a utilização de serviços em hotéis e outros
estabelecimentos).
A Wells & Fargo cria a agência de viagens American
Express, com os famosos cheques de viagem (travel check) que protege o viajante
de roubos e extravios.
Cesar Ritz revolucionou a indústria hoteleira,
introduzindo quartos de banho individuais.
IN Jornal de Matosinhos nº 1802, de 3 de Julho de 2015