sexta-feira, 10 de julho de 2015

TURISMO - 1

As movimentações de massa humanas, originadas pelos tempos livres, fruto da evolução das relações laborais, podem ter várias raízes, desde logo a sede do conhecimento de outras terras e de estranhas gentes que as habitam. É o Turismo.
Para que exista turismo é necessário a conjugação de vários factores:
» A existência de uma comunidade endinheirada;
» Que essa comunidade tenha tempo disponível para o ócio, e
» Que haja segurança nos locais para onde deseja visitar.
Ao longo dos séculos, o conceito de Turismo foi evoluindo.
Na Antiguidade Clássica, existia apenas o conceito do turismo religioso: as massas populares que podiam fazê-lo deslocavam-se apenas para os locais de culto – aos oráculos de Delfos e de Dódona, por exemplo, mas nunca para locais muito distantes, já que a segurança das pessoas e bens, no trajecto, não estava garantida. E, de 4 em 4 anos, deslocavam-se a Olímpia para assistirem aos Jogos Olímpicos. E para a sua realização plena, havia tréguas entre as Cidades-Estado.
No Império Romano, a classe dominante, já com bastantes posses e muito ócio, dirigiam-se para os locais de veraneio, onde podiam passar os longos períodos estivais, e para as águas termais, tudo graças à pax romana e à vasta rede de estradas. E ao “desporto” sangrento nos stadium construídos propositadamente para o efeito.
Com a queda do Império Romano do Ocidente, durante vários séculos, devido aos inúmeros perigos, não havia turismo, embora houvesse alguns aventureiros (no verdadeiro sentido do termo) que gostavam, de conhecer outras terras e outras gentes. Foi neste período que nasceu o turismo religioso, em que inúmeras pessoas se deslocavam (e ainda deslocam) em busca de locais de culto. O Caminho de Santiago iniciou-se no primeiro quartel do século IX. E as deslocações dos crentes Cristãos à Terra Santa, a partir de Veneza, e dos crentes Muçulmanos, da Europa e do Norte de África, anualmente, a Meca, em cumprimento do Haij, um dos cinco pilares do Islão.
Só com a Gesta dos Descobrimentos, durante todo o século XV, é que o Turismo, no seu conceito actual, começou a desenvolver-se. As viagens começaram a ser mais fáceis e os perigos diminuíam, embora não tivessem ainda acabado, dado que havia sempre o perigo da actuação dos piratas e dos salteadores de estrada.
Com o evoluir das diversas economias, de uma agricultura rural de subsistência para uma economia de mercado (a troca de bens e de produtos e a prestação de serviços), era habitual os universitários ingleses complementarem a sua formação com deslocações ao estrangeiro (ao continente europeu), durante períodos de 3 a 5 anos, Grand Tour – surgindo, então, os primeiros hotéis.
Com a Revolução Industrial, com a consolidação de uma burguesia que volta a dispor de recursos, e o nascimento de novos meios de transporte mais rápidos (os caminhos de ferro e os navios a vapor) em substituição dos animais de tiro e de trela e da navegação à vela. O Mundo tornara-se um pouco mais pequeno.
Nos finais do seculo XIX, uma rede de linhas férreas na Europa e na América do Norte, aliada a uma frota nascente de “vapores”, possibilitou a migração de vastas populações, tanto dentro da Europa como para a América e dentro dela.
Nesta época, surgiu, na Europa, o turismo de saúde, com a construção de sanatórios e clínicas privadas, muitas delas ainda existentes.
            Só após a II Guerra Mundial, com a recuperação económica a o nascimento de uma classe média com mais meios financeiros e com muito tempo livre, nos anos de 1950, começou o verdadeiro turismo de massas – turismo massificara-se ou democratizara-se.
Nos nossos dias, são alguns milhões que, diariamente, buscam outras terras e outras gentes, utilizando os mais variados meios de transporte, evoluindo ao longo dos tempos:
» Começando por ser o “Turismo do Sol e Praia” em busca de terras mais quentes e aprazíveis: como a Tunísia, Cuba, Brasil, Egipto (Sharm-el-Sheik) e as Caraíbas;
» O crescente Turismo Cultural, buscando a História dos locais de destino, como o Norte de Itália, com Veneza à cabeça, o Norte de África (Egipto e Marrocos), Médio Oriente (Jerusalém, São João de Acre, Palmira, Petra, Aqaba). E as grandes cidades europeias (Paris, Londres, Roma, Berlim, Varsóvia, Viena, Amesterdão) ou americanas (Nova Iorque) ou asiáticas (Tóquio, Pequim);
» Turismo Religioso – em que os Crentes buscam conforto espiritual em alguns locais (Fátima, Lourdes, Jerusalém, Santiago de Compostela, Roma, Meca);
» Turismo Gastronómico – em que os turistas buscam a gastronomia local e os vinhos – em perigo com as modernices do gourmet (vão-se abastardando os sabores regionais) – e a gastronomia regional vai mudando de lugar (1);
» Turismo Paisagístico – em busca das belezas dos desertos (do Sahara, da Arábia), dos vales do Rio Douro ou do Rio Colorado (Grand Canyon) e do Nilo, as Montanhas Rochosas, os Alpes, os Pirenéus, o Lago Titicaca, a foz do Rio Iguaçu;
» Cruzeiros, em navios cada vez maiores, em que os turistas, em grande número, têm a bordo muita diversão e que, de porto em porto, fazem uma visita rápida aos locais mais típicos.

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(1)      Um restaurante, em Espanha, renunciou à sua Estrela Michelin para poder servir às populações a gastronomia regional muito procurada pelos nacionais.
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Curiosidades:
Em 1851, nasceu a primeira agência de viagens – Thomas Cook and Son.
Em 1867, nasceu o voucher (documento que permite a utilização de serviços em hotéis e outros estabelecimentos).
A Wells & Fargo cria a agência de viagens American Express, com os famosos cheques de viagem (travel check) que protege o viajante de roubos e extravios.
Cesar Ritz revolucionou a indústria hoteleira, introduzindo quartos de banho individuais.


IN Jornal de Matosinhos nº 1802, de 3 de Julho de 2015

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