sexta-feira, 10 de julho de 2015

RIGOR

            Qualquer dicionário da Língua Portuguesa definirá o termo “rigor”, enquanto palavra polissémica, como sendo:
1 – Ausência de flexibilidade, de maleabilidade, rigidez;
2 – Austeridade, grande severidade;
3 – Falta de tolerância, intransigência;
4 – Exactidão, precisão.
            Ora, no dia-a-dia, a linguagem utilizada não é assim tão rigorosa, confundindo-se termos que são, por vezes, de significado oposto, especialmente em alguns meios de comunicação social escrita (estada/estadia; proprietário/possuidor/detentor; arrendar/alugar; arrendamento/aluguer). Claro que, depois, os termos serão mal utilizados pelos respectivos leitores, tornando impreciso o linguajar dos povos que com o uso diário acaba por dar às palavras um outro sentido que não o original, dificultando a interpretação futura dos textos escritos.
            A falta de rigor, ou melhor a sua ausência, também se verifica das contas apresentadas em algumas entidades, e quando alguém reclama da falta de exactidão, de precisão, ouvirão que não se verificou alguma violação de lei, de regulamento ou de uma qualquer norma. Não existe, de facto, nenhuma norma que diga que as contas têm de estar certas. Mas houve a violação básica de um princípio matemático em que as adições e/ou as subtracções têm que estar exactas. Ora, 2 + 2 = 4 e não 3 ou 5, embora se saiba que a leitura dos números possa ser manipulada. Mas têm que estar certos!
            Nas contas públicas, o rigor orçamental implica o equilíbrio das receitas e das despesas, e como os Estados gastam muito mais do que podem receber por via dos impostos e das taxas cobradas aos neles residentes acabam por contrair empréstimos, ou como agora de diz, “vender dívida”. Num futuro mais ou menos longínquo, acabará sempre por impor sacrifícios aos seus cidadãos que andaram “a viver acima das suas possibilidades”. Será, então, a austeridade.
            No âmbito religioso, para fundamentar posições extremistas, muitos utilizam os textos sagrados fora do seu contexto ou mutilam frases para que o sentido seja o que é desejado para atingir os objectivos, suprimindo ou colocando vírgulas em locais certos, quando os textos originais não tinham quaisquer desses sinais (pontos ou vírgulas).
            Os políticos, na sua constante angariação de votos, não têm qualquer prurido em utilizar incorrecções/imprecisões para enganar o eleitor, criticando o adversário por factos que nunca ocorreram ou se ocorreram foi num outro sentido que não aquele que agora lhes é atribuído, sendo autênticas desonestidades intelectuais porque a verdade ou os factos conhecidos são omitidos conscientemente para se chegar àquela conclusão e não aqueloutra.
            Exemplos não faltam. E de entre todos os exemplos indico apenas um, em que um líder partidário afirmou, preto no branco, que o senhor Presidente da República adiou as eleições legislativas quando ele sabe, perfeitamente, o que diz a lei eleitoral sobre esse assunto (cfr. artº 19º, nº 2, da Lei 14/79, de 16 de Maio): “No caso de eleições para nova legislatura, essas realizam-se entre o dia 14 de Setembro e o dia 14 de Outubro do ano correspondente ao termo da legislatura” (sublinhado meu).

IN Jornal de Matosinhos nº 1803, de 10 de Julho de 2015

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