Qualquer dicionário da Língua Portuguesa
definirá o termo “rigor”, enquanto palavra polissémica, como sendo:
1 –
Ausência de flexibilidade, de maleabilidade, rigidez;
2 –
Austeridade, grande severidade;
3 –
Falta de tolerância, intransigência;
4 –
Exactidão, precisão.
Ora, no dia-a-dia, a linguagem
utilizada não é assim tão rigorosa, confundindo-se termos que são, por vezes,
de significado oposto, especialmente em alguns meios de comunicação social
escrita (estada/estadia; proprietário/possuidor/detentor; arrendar/alugar;
arrendamento/aluguer). Claro que, depois, os termos serão mal utilizados pelos
respectivos leitores, tornando impreciso o linguajar dos povos que com o uso
diário acaba por dar às palavras um outro sentido que não o original,
dificultando a interpretação futura dos textos escritos.
A falta de rigor, ou melhor a sua
ausência, também se verifica das contas apresentadas em algumas entidades, e
quando alguém reclama da falta de exactidão, de precisão, ouvirão que não se
verificou alguma violação de lei, de regulamento ou de uma qualquer norma. Não
existe, de facto, nenhuma norma que diga que as contas têm de estar certas. Mas
houve a violação básica de um princípio matemático em que as adições e/ou as
subtracções têm que estar exactas. Ora, 2 + 2 = 4 e não 3 ou 5, embora se saiba
que a leitura dos números possa ser manipulada. Mas têm que estar certos!
Nas contas públicas, o rigor
orçamental implica o equilíbrio das receitas e das despesas, e como os Estados
gastam muito mais do que podem receber por via dos impostos e das taxas
cobradas aos neles residentes acabam por contrair empréstimos, ou como agora de
diz, “vender dívida”. Num futuro mais ou menos longínquo, acabará sempre por
impor sacrifícios aos seus cidadãos que andaram “a viver acima das suas
possibilidades”. Será, então, a austeridade.
No âmbito religioso, para
fundamentar posições extremistas, muitos utilizam os textos sagrados fora do seu
contexto ou mutilam frases para que o sentido seja o que é desejado para
atingir os objectivos, suprimindo ou colocando vírgulas em locais certos,
quando os textos originais não tinham quaisquer desses sinais (pontos ou
vírgulas).
Os políticos, na sua constante
angariação de votos, não têm qualquer prurido em utilizar
incorrecções/imprecisões para enganar o eleitor, criticando o adversário por
factos que nunca ocorreram ou se ocorreram foi num outro sentido que não aquele
que agora lhes é atribuído, sendo autênticas desonestidades intelectuais porque
a verdade ou os factos conhecidos são omitidos conscientemente para se chegar
àquela conclusão e não aqueloutra.
Exemplos não faltam. E de entre
todos os exemplos indico apenas um, em que um líder partidário afirmou, preto
no branco, que o senhor Presidente da República adiou as eleições legislativas
quando ele sabe, perfeitamente, o que diz a lei eleitoral sobre esse assunto
(cfr. artº 19º, nº 2, da Lei 14/79, de 16 de Maio): “No caso de eleições para
nova legislatura, essas realizam-se entre
o dia 14 de Setembro e o dia 14 de Outubro do ano correspondente ao termo
da legislatura” (sublinhado meu).
IN Jornal de Matosinhos nº 1803, de 10 de Julho de 2015
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